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Tuesday, October 30, 2007

Psicologia Evolutiva

1. Distinga entre a afirmação “este caracter é uma adaptação” & “este caracter é adaptativo”.
Não sendo apenas uma mera distinção gramatical entre um substantivo e a sua adjectivação, apesar de ser uma explicação tentadora, irei tentar distinguir as duas afirmações partindo das mesmas. Se ‘este caracter é uma adaptação’ quer dizer que existe, com certeza, outro qualquer caracter que não o é. O que é um caracter que não é uma adaptação? Um caracter que não é uma adaptação será provavelmente um caracter que surgiu, durante o processo evolutivo de um organismo, como tantos outros, por deriva genética, por acaso. Isto quer dizer que existem outros caracteres que não surgem por acaso? Não. Todos os caracteres são resultantes de mutações aleatórias. Podem é ser úteis ou não úteis ou ainda indiferentes para a sobrevivência / reprodução do organismo no confronto com o meio em que está integrado. Os caracteres indiferentes não são alvo da ‘atenção’ da selecção natural e são os caracteres que não são uma adaptação. Mas a frase não era pela negativa. Então, os caracteres que são uma adaptação serão os caracteres que são resultantes de um processo de selecção natural e que foram úteis. Os caracteres que são prejudiciais serão caracteres inadaptativos. Nestas últimas duas frases há duas coisas que queria que fossem focadas: a conjugação verbal da primeira (‘foram’ – pretérito perfeito do Indicativo); e a palavra inadaptativos. Isto leva-nos à segunda afirmação e ao conceito de adaptativo (outra vez pela negativa) com mais uma variável que até agora têm passado despercebida: o tempo. Ora, estamos a falar de caracteres que são úteis, indiferentes ou prejudiciais para a sobrevivência de um organismo, e que são alvo da selecção natural ou não. É aqui importante perceber duas coisas: a selecção natural é um processo; e nós temos acesso só ao momento presente (não final) do processo. Quanto mais complicada a característica que é alvo da nossa atenção mais a probabilidade terá de ter sofrido varias mutações até chegar ao que vemos hoje. A adaptatividade prende-se então com o contributo de um caracter para o aumento do ‘fitness’ de um organismo. Este caracter pode ou não ter função aparente, sendo que esta (leia-se função) pode só ser visível mais à frente no processo evolutivo. Uma forma de distinguir os dois termos poderá ser a seguinte: um caracter que é uma adaptação é um caracter que é resultante de um processo de selecção natural e que tem ou não uma função específica que pode ou não aumentar o ‘fitness’ do organismo no momento presente, mas que de certeza o aumentou no passado; um caracter que é adaptativo é um caracter que presentemente confere uma vantagem evolutiva ao organismo que é necessariamente uma adaptação ou uma exaptação, mas pode, no entanto, não ter tido função observável ou até qualquer influência no passado. A diferença é o referencial temporal, e a implicação de um processo específico já acabado ou em andamento…

2. Quais as condições necessárias para a acção da selecção natural?
As características necessárias para a acção da selecção natural são: variabilidade genética intra-específica e reprodução.
Em verdade o sistema, para que funcione (i.e., para que a selecção natural actue ou exista até) precisa de mais umas quantas variáveis que estão implícitas nas duas acima referidas.
Em primeiro lugar um Organismo e um Meio. Os organismos tem de ser replicadores e o meio tem de ser limitado em espaço e recursos, isto leva à competição e logo à não sobrevivência de alguns organismos em prole de outros. O meio pode ou não variar, se variar a evolução acompanhara essas mudanças.
A replicação tem de envolver gastos de energia e os organismos não podem ser autosustentáveis i.e., têm de necessitar da energia do meio para se replicarem. Tem de haver uma passagem de informação sobre as características do organismo entre uma geração e outra, através de um sistema ao qual podemos chamar DNA.
Tem de existir o erro, haver mutações (falhas na replicação que acrescentem ou retirem aleatoriamente informação); pode ou não haver recombinação de genes.
Organismos (orgânicos ou não) que se reproduzam integrados num ambiente com recursos limitados, e que armazenem informação no DNA, ao longo do tempo, irão ser o alvo e, ao mesmo tempo, a base para a existência da selecção natural e irão necessariamente evoluir ou extinguir-se.
O link que se segue exemplifica os efeitos da selecção natural em organismos artificiais com apenas uma característica: http://www.youtube.com/watch?v=SeTssvexa9s

3. Acha que a nossa espécie é afectada pela selecção natural hoje em dia? Explique a sua resposta.
No seguimento da resposta anterior, não vejo porque não. Somos organismos, precisamos de consumir energia que é limitada, reproduzimo-nos, temos variabilidade intra-específica, DNA, competição, mutações e até uma interacção modificadora do meio que aumenta a probabilidade de existirem mudanças que venham a afectar o nosso nível de ‘fitness’.

4. Distinga entre selecção natural & selecção sexual.
Selecção natural é o processo pelo qual os caracteres favoráveis e herdáveis de um organismo tendem a ser mais frequentes em gerações sucessivas ao mesmo tempo que os caracteres não favoráveis tendem a desaparecer. O que torna um caracter favorável é o seu contributo para o ‘fitness’ do organismo: a capacidade de perpetuar os próprios genes, que é dada pela proporção dos genes desse organismo na totalidade dos genes da geração sucessiva. Um caracter favorável será então um que maximize a reprodução e a sobrevivência do organismo (na medida em que maximiza as possibilidades de reprodução).
A selecção sexual, por seu lado, prende-se com a reprodução sexuada, i.e., com a existência de um macho e uma fêmea e da necessidade dos dois para a reprodução. O foco de atenção recai também aqui sobre os caracteres herdáveis, e sobre o ‘fitness’ do organismo, no entanto é este conceito de ‘fitness’ que se vai alterar na medida em que, a capacidade de perpetuar os próprios genes, que depende da sobrevivência e reprodução, tem um grau de complexidade maior num dos factores. Agora, a reprodução implica o acesso a outro recurso que pode ou não ser escasso e que pode ou não querer cooperar. Fala-se aqui de selecção de caracteres que sejam atractivos para o sexo oposto, que nos confiram vantagem com a competição do mesmo sexo ou que nos permitam reproduzir sem cooperação (selecção de parceiro, competição intra-sexual e competição inter-sexual).

5. Em que medida a evolução de caracteres comportamentais se distingue/assemelha à evolução dos demais caracteres.
Antes de mais nada os caracteres comportamentais, para poderem ser estudados de uma perspectiva evolutiva, deverão ter uma base genética. Partimos portanto deste pressuposto; neste sentido a semelhança entre os dois tipos de caracteres será que ambos são resultantes de um processo evolutivo veiculado pela selecção natural. A sua distinção prende-se com a definição de característica genética facultativa, e com uma interacção específica com o meio. Ou seja, um caracter não comportamental surge, independentemente da sua interacção com o meio, apesar dessa interacção poder alterar de varias formas a sua expressão. Um caracter comportamental, por seu lado, depende da interacção com o meio para a sua expressão.
Consideremos então 5 variáveis: duas do organismo, genótipo (transmissão genética) e fenótipo (expressão de características); e três a nível da acção do meio sobre o organismo, uma acção positiva, uma acção neutra e uma acção negativa. A nível de transmissão genética o meio pode permiti-la e/ou potencia-la (acção neutra e positiva) ou impedi-la (acção negativa). Relativamente ao fenótipo exactamente o mesmo. No entanto é neste ponto que se distinguem os caracteres comportamentais dos não comportamentais. Enquanto os caracteres não comportamentais vão ter expressão quando confrontados com uma acção neutra e/ou positiva (variabilidade fenotípica) e vão ser inibidos perante uma acção negativa; os caracteres comportamentais só vão ter expressão se o meio tiver uma acção positiva, sendo que, na presença de uma acção negativa e/ou neutra não vão ter expressão.
A Psicologia Evolutiva (PE) vêm neste sentido tentar dar respostas à evolução de caracteres comportamentais, estes caracteres podem ser ‘domain-specific’ (DS) ou domain-general’ (DG). Mecanismos DS surgem como forma de lidar com problemas adaptativos recorrentes ao longo da história evolutiva do ser humano. Mecanismos que são DG surgem para lidar com a ‘novidade evolutiva’ tanto a nível de mudanças do meio como a nível de mutações específicas que vem alterar um dado caracter…