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Monday, December 03, 2007

Psicologia Evolutiva II

1. Um dos postulados da Psicologia Evolutiva é que os mecanismos psicológicos evoluíram no ambiente ancestral adaptativo, podendo estes ser mal-adaptativos no presente. Exemplificando com um mecanismo psicológico particular, responde as seguintes perguntas:

1.1 Como testar se o mecanismo psicológico é ou não adaptativo no presente?

1.2 Como testar se o mecanismo psicológico era adaptativo no ambiente ancestral?

Segundo Buss (2004) [1] os mecanismos psicológicos que evoluíram têm as seguintes propriedades:

Þ Resolveram problemas de sobrevivência e / ou reprodução durante a história evolutiva do organismo

Þ São ‘desenhados’ para receber uma ‘fatia’ específica de informação

Þ 'dizem’ ao organismo o problema adaptativo particular que está a enfrentar

Þ Esta informação é transformada através de uma série de regras numa decisão (output)

Þ Esta decisão (output) pode causar uma actividade psicológica, um ‘input’ para outros mecanismos psicológicos ou manifestar comportamento

Þ Esta actividade (output de um mecanismo psicológico adaptativo) está orientada para a resolução de um problema adaptativo particular

Em sintonia com a resposta à 2ª pergunta (à qual respondi primeiro, e onde me alonguei um pouquino… sorry) vamos considerar o ciúme. Vou tentar não repetir as coisas que vou escrever / já escrevi a seguir, mas que ainda não foram lidas. (Esta parte desta resposta completa a primeira parte da resposta à pergunta 2.1)

Seguindo as propriedades do Buss (2004):

O ciúme resolve problemas de sobrevivência / reprodução: minimizando a possibilidade de quebra do contracto reprodutivo (quando resulta em comportamentos nesse sentido) ou simplesmente fornecendo informação que terá de ser pesada para a troca ou não de parceiro.

Recebe uma ‘fatia’ específica de informação: está directamente relacionado com comportamentos do parceiro e resulta em controlo e agressividade para o controlo. Característica típica do ciúme é ser cego, irracional, é uma convicção que predispõe a uma interpretação dos acontecimentos sob o prisma verde do ciúme.

Consciencializa ao organismo o problema que está a enfrentar: é relativo à quebra de contracto numa relação de cooperação.

A informação é transformada por uma série de regras: as regras inerentes a um contracto de cooperação reprodutiva, expectativas, custos e benefícios.

O output pode causar uma actividade psicológica ou comportamento: comportamnetos possessivos, obsessão, etc.

O output está orientado para a resolução de um problema particular: sucesso reprodutivo!

Portanto segundo Buss (2004) o ciúme seria uma característica psicológica evoluída, agora, como testa-la? E melhor ainda, como testar a sua capacidade adaptativa?

Diz-se uma característica adaptativa de uma característica que melhore o fitness reprodutivo de um organismo. Então o ciúme terá que melhorar o sucesso reprodutor tanto de homens como mulheres, seja directa ou indirectamente. Para isso teremos então de quantificar o ciúme de alguma maneira, relaciona-lo com o nº de descendentes, ou com a ‘cotação’ no ‘mercado’ da selecção de parceiros (facilidade em arranjar parceiros). Podíamos fazer isto tanto de uma forma pré como pós. Pré seria medir (subjectivamente ou não) o nível de ciúme de uma pessoa e quantificar o nº de parceiros. Pós seria escolher amostras de casais com descendência e sem, ao mesmo tempo que se relacionava o ciúme declarado e percepcionado pelo outro com o nº de descendentes.

Mais facilmente podia-se ver se o ciúme tem influência na selecção de parceiros ou não acrescentando uma categoria (apesar de esta ser muitas vezes percepcionada como negativa) aos estudos de mate selection já realizados.

Para testar se um mecanismo psicológico é adaptativo no presente podemos usar o modelo experimental ou a psicologia comparada. As evidências de outras espécies ajudam a postular e a refutar premissas, as descobertas arqueológicas ajudam a estruturar hipóteses e perguntas mais específicas e os modelos computacionais da mente podem esclarecer, sustentar e dirigir futuras ‘explorações’ da mente humana, passíveis de ser testadas e reproduzidas.

Por outro lado não existe uma forma de testar se um mecanismo psicológico era adaptativo no AAE. Não temos acesso nem ao próprio AAE nem aos Homens que o habitavam. O melhor que se pode fazer é deduzir que, se o mecanismo existe e é identificado hoje em dia pode ter existido e ter tido uma utilidade no AAE. Se o mecanismo for mal-adaptativo é mais provável que tenha servido para resolver um problema que já não exista e isso da-nos mais uma peça do puzzle de como era o AAE. Pode-se tentar extrapolar o AAE através de evidências arqueológicas, de comparações com sociedades de foragers que ainda hoje existam, mas não o podemos testar directamente.

2. Segundo a Psicologia Evolutiva, o ‘Ciúme’ é um estado de alerta promovido pela percepção de ameaça a uma relação que é valorizada; e existem razões evolutivas para prever que o mecanismo psicológico do Ciúme seja accionado por diferentes factores segundo o género: homens mais sensíveis a infidelidades sexuais e mulheres a infidelidades emocionais. Dentro do enquadramento da Psicologia Evolutiva:

1.1 Qual o fundamento evolutivo da diferenciação entre géneros em termos da sua sensibilidade?

1.2 Na aula tratamos de relações heterossexuais. Qual será a expectativa sobre factores que accionam este mecanismo nos homens e mulheres em casais homossexuais? Explique.

O fundamento evolutivo da diferente sensibilidade dos dois sexos no que respeita a escolha / manutenção de um parceiro / relação de cooperação significativa, tem provavelmente varias faces.

Partimos do pressuposto de que os homens e as mulheres contribuem de forma diferenciada para a sua reprodução, tanto a nível biológico como a nível de cuidados parentais, neste sentido, tanto homens como mulheres terão de ter desenvolvidos mecanismos que ajudem na identificação de características (físicas ou psicológicas…) que maximizem o seu próprio potencial reprodutivo, este fenómeno está patente em todos os estudos desenvolvidos sobre ‘mate selection’ onde verificamos a procura diferenciada entre homens e mulheres de características específicas que tendencialmente vão ser cada vez mais pronunciadas. No caso dos homens, o WHR (waist hip ratio, mais sobre isto no estudo da 3ª pergunta) que confere alguma garantia biológica, bem como a ‘fidelização’ do acto reprodutivo, que confere alguma garantia ao nível da paternidade. No caso das mulheres, alter idem, i.e., características físicas que veiculem informação de genes ‘fortes’, e por outro lado possibilidade de providenciar recursos (ao nível de um investimento continuado).

Faz sentido então, considerando estes pré-requisitos de ambas as partes, que a selecção de parceiros tenha, subjacente à sua escolha, um contrato latente de cooperação reprodutiva que implique de ambas as partes benefícios e custos. No caso dos homens o benefício garantido deverá coincidir com os critérios que mais contam para a selecção de parceiro (garantia de paternidade), no caso das mulheres o mesmo, ou seja, garantia de acesso a recursos (status, rendimento, atenção, cuidados parentais), os custos para ambos serão, o não investimento em outras mulheres (sexual ou de outra índole), para os homens, e o não envolvimento sexual com outros homens (de modo a garantir que a descendência criada tenha os genes do homem), no caso das mulheres.

Se juntarmos a este mecanismo a necessidade evolutiva, num contexto cooperativo, para a detecção de ‘batoteiros’ (cheater detection mechanisms – CDM), o aparecimento do Ciúme torna-se mais claro. CDM são mecanismos psicológicos evolutivos que tem como função a identificação de indivíduos que recebem os benefícios de uma relação cooperativa, sem nunca pagar os custos. O ciúme será assim diferenciado também, os homens tenderão a procurar garantir o próprio benefício, tendo uma sensibilidade especial às várias possibilidades de infidelidade sexual da parceira, e as mulheres terão ao mesmo tempo, maior sensibilidade para percas de investimento em prole de outra possível parceira.

No caso da homossexualidade, e partindo de um postulado ao nível da psicologia evolutiva onde se consideram mecanismos específicos para resolver problemas específicos, teríamos a tendência para responder que em casais de homens o ciúme é mais relacionado a infidelidades sexuais e que em casais de mulheres este estaria mais relacionado a infidelidades emocionais. No entanto existem várias questões:

Em primeiro lugar tendo desaparecido a função reprodutora o efeito destes mecanismos poderá ser diminuído ou até desaparecer pela possível activação de outros mecanismos, de outra índole e com outros objectivos, visto não ter uma função reprodutiva o cérebro terá de procurar outro modulo de processamento de informação que tenha outro objectivo qualquer, provavelmente um que venha imediatamente a seguir numa escala de prioridades evolutivas hierarquizada.

Em segundo lugar, pode-se postular que a existência deste mecanismo psicológico reprodutivo (que comporta os módulos descritos acima, bem como outros) precise de 2 papéis diferentes numa relação sexual. Por papeis entendemos a mímica de padrões de comportamento que ‘enganem’ o cérebro modulando as expectativas do parceiro.

A primeira questão remete para uma plasticidade e adaptatividade ao nível do indivíduo e da sua resposta psicológica a mudanças ambientais, implicaria uma perspectiva de mecanismos psicológicos domain-general, ou seja, que tivessem graus de liberdade.

A segunda questão, quanto a mim mais interessante, remete para uma plasticidade não dos mecanismos cerebrais mas da integração destes mecanismos. A aprendizagem, em fase de desenvolvimento, é feita maioritariamente por imitação. Temos portanto a possibilidade de imolar comportamentos de outros indivíduos e integra-los na nossa personalidade (torna-los mais automáticos). Neste sentido em casais homossexuais podemos encontrar uma variedade de tipos de relacionamento que dependerão de uma ‘escolha’ do indivíduo de emular o comportamento de um dos lados da relação ou do outro. Esta emulação pode ser uma estrutura permanente (lésbicas ditas ‘butch’ ou gays com comportamentos femininos) mas pode também ser uma estrutura que se modifique conforme a situação, onde teremos então uma relação baseada em vivências e a adequação a um ou ao outro papel da relação por parte de qualquer um dos membros do casal. Esta adequação será então feita com base em princípios subjectivos e egoístas, e podem ou não ser correspondidos por um comportamento complementar ou não dando origem a conflitos ou, por outro lado, a uma maior capacidade de gestão do relacionamento. Ao separar a reprodução do acto sexual as variações comportamentais serão exponencialmente maiores, tornando difícil a sua confirmação pelo método experimental visto que a quantidade de variáveis a ser manipuladas também aumentam.


3. A 13 de Novembro encontrei esta nota curta no Meia-Hora. Diz: Segundo um estudo, as mulheres curvilíneas não só são mais inteligentes como têm hipóteses de ter filhos mais espertos.

É a notícia que mulheres de todo o Mundo esperavam. Quando se fala de uma anatomia feminina com curvas isso é sinónimo de falar de inteligência. Pelo menos, segundo um estudo publicado pela revista científica Evolution and Human Behaviour que afirma que as mulheres com curvas não só são mais inteligentes, como têm filhos mais espertos do que as outras. A explicação dos investigadores Stephen Gaulin (Universidade de Califórnia) e William Lassek (Universidade de Pittsburgh) é a de que os ácidos graxos ómega 3, que se acumulam nos quadris e coxas, servem de alimento ao cérebro e são essenciais para o desenvolvimento neurológico dos bebés.

Qual a importância deste estudo para o entendimento da evolução das preferências masculinas pelos parceiros femininos a longo-prazo?

A importância deste estudo é óbvia, ao ser confirmado, este estudo fornece uma explicação da razão pela qual os homens preferem um rácio mais baixo na escolha de parceiras a longo prazo. A existência da preferência de um rácio mais baixo já foi, e continua a ser testada, a sua existência não explica, no entanto, a razão pela qual esta preferência existe. Capacidades cognitivas maiores implicam maior fitness da descendência (independentemente do ambiente – desde que não se potenciem a custa de outras?). Faz sentido então que exista um mecanismo psicológico que atribua um maior grau de atractividade a uma parceira que potencie o fitness da descendência ao mesmo tempo que aumente a probabilidade de viabilidade da mesma. Ou seja, embora o intervalo de idades de mulheres que são alvo das preferências masculinas varie em consonância com a idade do homem que esteja a seleccionar, existe uma tendência (provavelmente fruto de probabilidades estatísticas) para seleccionar parceiras mais novas (maior tempo de período fértil que leva a uma maior possibilidade de frequência de reprodução). No entanto, quanto mais nova a parceira menos o seu próprio desenvolvimento se encontra em fases finais. Quanto menor for o WHR maiores as reservas de substâncias que promovem o desenvolvimento neuronal. Por isso, menor também vai ser a competição (intra-uterina) pelos mesmos recursos entre embrião e mãe, estando a mãe também ainda em desenvolvimento, a viabilidade de uma descendência com um fitness maior é assim também aumentada.


[1] Buss, David M 2004: Evolutionary Psychology - The New Sciend of the Mind - 2nd edition, Boston MA Pearson Education 2004, paginas 50ff.

2 comments:

a said...

ia começar a falar no ciúme... (uma vez que n tenho quererá dizer que n dou importância à relação?) mas depois continuei a ler e fiquei a pensar, será que uma vez que n estou à procura de parceiro para reprodução (ou uma vez que tenho parceiro, n quero reproduzir com ele) é mais normal n haver ciúmes?

Ou n tem nada a ver, esta escolha é quase inconsciente e eu escolhi um quarentão, para proporcionar estabilidade à prole que um dia venha a ter?

Em relação às curvas... devo concluir que devido à minha fisionomia sou estúpida e vou ter filhos deficientes?

Então porque raio é que o gajo me escolheu a mim?

Perguntas meio a sério, meio no gozo, era só para n estar completamente desaparecida. A verdade é que estes estudos me fazem uma certa confusão e gosto de pensar (apesar de n ser verdade) que estou à margem deles. Que mania de estudar o comportamento humano e catalogá-lo, já n há espaço para a originalidade?

beijinhos

Anonymous said...
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